A PAUTA É GERALD THOMAS – Diretor revisita o aclamado Terra em Trânsito para os tempos de pandemia.

A situação chave de Terra em Trânsito (versão 2021) se mantém a mesma de 15 anos atrás: uma atriz (Fabiana Gugli) enclausurada no camarim com seus delírios, momentos antes de entrar em cena para cantar Liebestod, sua ária em Tristão a Isolda, conversando o tempo todo com um cisne judeu*. Mas para a experiência com a “nova linguagem” teatro-cinema, o autor e diretor Gerald Thomas reformulou a dramaturgia para o novo contexto político, econômico e cultural, realidades diferentes da montagem original. A estreia será na noite de 10 de abril, A transmissão gratuita será pela plataforma digital YouTube.

A dramaturgia de Thomas é sempre um desabafo a respeito do que acontece no mundo, em política, economia, cultura e trivialidades, do momento social da peça.

– A versão original era, entre outras coisas, um desabafo político contra George W. Bush e a atual é um desabafo contra Donald Trump e outras outras coisas mais. Em 2006 a atriz se drogava com cocaína, agora ela se droga com pílulas de prescrição médica –, comenta Gerald Thomas. – A ária Liebestod que a solista vai cantar significa “Morte através do amor”, que é mais ou menos como os políticos nos veem, querem que a gente ame eles através da morte, porque produzem guerras em todos os lugares.

A proposta de Gerald Thomas para a versão teatro-cinema de Terra em Trânsito é transpor o olhar da câmera para o olhar do espelho que encara a protagonista. Neste sentido, é uma filmagem estática, inanimada, porém de forma alguma desprovida de sentido. A esse respeito da opção de Thomas, Leon Barbero, diretor de filmagem e edição, diz que “a delimitação imposta pelos quatro cantos do quadro imprime o tom claustrofóbico da obra e coloca o espectador no papel de julgador. Afinal, o espelho é o julgamento primordial, aquele que nos mostra o que realmente somos.”

A montagem celebra a parceria artística de mais de duas décadas entre Gerald Thomas e Fabiana Gugli.

– O Terra de 2021 dialoga com o momento que vivemos. Estamos há um ano confinados dentro da casa, enlouquecendo aqui dentro sobre o mundo lá fora. Em 2006, estava no palco, com plateia, luz e cenário. Agora, tudo foi adaptado para o espaço íntimo da minha casa, adereçado com memorabilia e objetos da minha trajetória teatral. Estou exposta, sem truques, nem artifícios e o texto para mim nunca fez tanto sentido: misturando a vida com a arte, a sala da casa com o camarim da diva, uma atriz/personagem que foi substituída ou esquecida. A grande sacada desta nova experiencia, foi transformar o espectador no Big Brother dentro do camarim. É através do espelho, no jogo de espelhos, que tudo acontece, agora dentro de uma tela –, declara Fabiana Gugli.

* A voz do cisne judeu é do ator Marcos Azevedo.

Sinopse de Terra em Trânsito (2021)

Uma solista se encontra enclausurada dentro de um camarim em pleno processo de concentração, aquecimento e delírio. Ela conversa o tempo todo com um cisne judeu enquanto o alimenta a com a finalidade de fazer foie gras. Lúdico, verborrágico, alucinado, o texto remete a grandes estrelas atormentadas, como Judy Garland ou Bette Davis. Nervosa, a diva se ajeita no espelho, fala pelos cotovelos, arruma o cabelo, o figurino, aquece a voz, dança e divaga sobre o mundo e a vida. Primeiro sinal! Continua sua maratona desenfreada de preparação. Segundo sinal! Já pronta, tenta abrir a porta. Está trancada. Berra. Esmurra a porta. Chama pelos contra regras. Terceiro sinal! Ouve aplausos. Alguém entrou em cena e começa a cantar Liebestod, sua ária em Tristão a Isolda. Como um fantasma, esquecida dentro do camarim, a ópera continua no palco, sem ela. Algo terrível ainda está por ser descoberto.

Retrospectiva de Terra em Trânsito

O espetáculo foi concebido por Gerald Thomas, em 2006, especialmente para a atriz Fabiana Gugli. A peça estreou no Sesc Vila Mariana e cumpriu temporadas em outras duas unidades do Sesc São Paulo, foi representada no Rio de Janeiro e viajou por dois anos pelo Brasil, recebendo ótima recepção do público e da crítica especializada: Bárbara Heliodora (O Globo), Macksen Luis (Jornal do Brasil), Edward Pimenta Jr. (Revista Bravo!), Sérgio Salvia Coelho (Folha de São Paulo). Por sua atuação, Fabiana foi indicada ao Prêmio Shell Melhor de Atriz. Também fez curta temporada, com versão em inglês, no La MaMa Theater, o mais importante teatro experimental de Nova York. Em 2007 representou o Brasil no Festival de Teatro de Córdoba, na Argentina, com versão em espanhol. Recebendo boas críticas de Cait Weiss e Beatriz Molinari, respectivamente. Em julho de 2020, foi adaptado para uma live, em única apresentação, dentro do projeto #EmCasaComSesc.

Gerald Thomas (autor e diretor) – Thomas é um autor e diretor de teatro cujas habilidades alcançam a dramaturgia, iluminação, cenografia, figurino, desenho e música. Nascido em Nova York (EUA), em 1954, entre 7 e 15 anos de idade, morou no Rio de Janeiro com seus pais, depois viveu por quase 1 ano em NY e 8 anos em Londres. Sua extensa trajetória o fez passar por pelo menos 15 países e vencer por duas vezes o Prêmio Molière e uma vez o Prêmio Mambembe. Criador de uma estética elaborada a partir do uso diferenciado de cada um dos recursos teatrais e orientada pelo conceito de “ópera seca”, Gerald Thomas renova a cena brasileira nas décadas de 1980 e 1990. Dirigiu, entre outros: Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Rubens Corrêa, Marco Nanini, Ney Latorraca, Julian Beck, em peças marcadas pela ousadia e irreverência, tornando-o um dos mais instigantes encenadores da atualidade. Sua carreira teve início em Londres, onde participa do grupo performático e multimídia Exploding Galaxy. No grupo amador Hoxton Theatre Company, realiza suas primeiras experiências como diretor. Já em Nova York, trabalha no La MaMa, espaço dedicado a encenações experimentais de todo o mundo, onde produz três espetáculos consecutivos, com textos de Samuel Beckett. Desde o primeiro projeto, Thomas visa uma proposta teatral na qual a identificação emocional seja suprimida, dedicando-se a mostrar o pensamento como processo, e o processo como tempo e espaço da cena. Trabalhou com Samuel Beckett, inicialmente em Paris, adaptando novas ficções do autor, entre elas, All Strange Away e That Time com Julian Beck, em sua única atuação como ator fora do Living Theatre. Em 1986, funda a Companhia de Ópera Seca, onde solidifica sua dramaturgia paródica e desconstrutivista, além de iniciar parceria com o compositor Philip Glass e o dramaturgo alemão Heiner Müller. O filósofo Gerd Bornheim considera que Thomas representa, no campo das discussões teatrais, mais do que um propositor de estéticas, mas “um pensador prático criador de uma Poética, ou seja, de um modo de produzir o novo”. Thomas é ainda autor dos livros: “Nada prova nada” (Record, 2011), “Arranhando a superfície” (Cobogó, 2012) e da autobiografia “Entre duas fileiras” (Record, 2016). Recentemente lançou “Um circo de rins e fígados: o teatro de Gerald Thomas” (Edições Sesc, 2019). Para conhecer mais a respeito dos trabalhos, antigos e recentes, de Gerald Thomas acesse http://www.geraldthomas.com

Fabiana Gugli (atriz) – Gugli tem formação em Artes Dramáticas e Dança pela Escola de Arte Dramática/USP, estreando na Cia. de Ópera Seca, do autor e diretor Gerald Thomas, onde atuou em 13 espetáculos. Terra em Trânsito (2006) lhe rendeu indicação ao Prêmio Shell-SP de Melhor Atriz; Os 39 Degraus (2011) indicação ao Prêmio APTR de Melhor Atriz Coadjuvante; Refúgio (2018) indicação ao Premio Shell-SP de Melhor Atriz. Em cinema, participou de sete longa-metragens. Na Rede Globo participou de oito seriados e miniseries. Na HBO atuou nas séries O Homem da Sua Vida e PSI, e na Universal na série Unidade Básica. Atualmente grava a minissérie internacional Anjo de Hamburgo para a Globo/Sony. http://www.fabianagugli.com

Leon Barbero (direção de filmagem e edição) – Barbero é formado em Cinema pela FAAP. Foi cofundador de produtora de vídeos publicitários e institucionais, onde dirigiu gravações multi-câmera de espetáculos do Theatro Municipal de São Paulo. Em 2019, fundou a Joki, produtora dedicada a projetos autorais como diretor e roteirista. Seu curta-metragem de estreia Babelon foi selecionado pelo Festival Curta Cinema 2020 e pela Mostra Tiradentes 2021. Hoje desenvolve projeto do curta-metragem Deus não dá Asas à Cobra.

Luiz Maximiano (direção de fotografia) – Maximiano estudou fotografia em Amsterdã, Holanda, onde morou por sete anos. De volta ao Brasil, trabalhou para diversas publicações nacionais e internacionais. Cobriu a guerra do Afeganistão, eleições do Paquistão e primavera árabe no Egito. Em 2015, inicia a transição para o cinema, fazendo a direção de fotografia para diversos filmes publicitários e para o documentário “Milton e o Clube da Esquina”, para o Canal Brasil em 2019.

Marcos Azevedo (voz do cisne) – Azevedo é ator, diretor e dramaturgo, licenciado em Artes Cênicas na Escola de Arte Dramática (ECA/USP). Integrou a Cia de Ópera Seca onde atuou em 12 montagens, também na Croácia e Portugal. É membro fundador do Coletivo Phila7, pioneiro no teatro online. Recentemente atuou no espetáculo O Camareiro, com Tarcísio Meira. Com o solo Caliban se apresentou em Edimburgo e Londres. Atualmente dirige Meio Amargo, de Gabriela Fazuna.

Edson Secco (Sound Design, Operação de Som e Trilha Original) – Secco tem formação em música, tecnologia e cinema, atuando como compositor e sound designer. Ganhador de cinco prêmios de Melhor Desenho de Som e três nomeações internacionais, criou a trilha sonora de mais de 60 longas-metragens e dezenas de espetáculos de teatro, dança, performances e instalações.

Ficha técnica

Direção e Dramaturgia: Gerald Thomas
Atriz: Fabiana Gugli
Ator Convidado – voz do cisne: Marcos Azevedo
Manipulação do cisne e Dublê de corpo: Isabela Carvalho
Sound Design, Operação de Som e Trilha Original: Edson Secco
Cenografia: Isabela Carvalho
Figurino: Fabiana Gugli
Direção de Filmagem e Edição: Leon Barbero
Direção de Fotografia: Luiz Maximiano
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Fotos e Design Gráfico: Victor Hugo Cecatto
Produção Executiva: Fabiana Gugli
Direção de Produção: Isabela Carvalho
Realização: Com Creta Produções

Serviço

Terra em Trânsito
Estreia dia 10 de abril de 2021, às 20h.
Temporada: Dias 10, 11, 17, 18, 24 e 25 de abril, sábados e domingos, 20 horas; a partir de 1º de maio, a peça ficará disponível por 24h por dia, todos os dias, até 31 de maio.
A transmissão gratuita será pela plataforma digital YouTube, com acesso exclusivo pelo link bit.ly/terraemtransito
Ingresso: Transmissão gratuita
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 40 min. (aproximadamente)

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