A pauta é corpos invisibilizados socialmente – Em “Meu Corpo Está Aqui” artistas PCDs falam abertamente de seus relacionamentos e experiências afetivas.

Obra teatral sensível, “Meu Corpo Está Aqui” é uma exibição amorosa da humanidade de um grupo de pessoas que ainda permanece profundamente marginalizado em nossas discussões. Uma peça que pretende influenciar, mobilizar, pessoas e estruturas, promovendo um importante efeito no olhar e na escuta da sexualidade entre pessoas com deficiência. Baseada nas experiências pessoais de quatro atrizes e atores PCDs, em que eles próprios estão em cena falando abertamente sobre seus relacionamentos, seus corpos, seus desejos, a dramaturgia mistura depoimentos ficcionalizados por Julia Spadaccini (também PCD) e Clara Kutner, retratando o jogo entre as pulsões e os obstáculos que se apresentam nas experiências de afeto e sexualidade em corpos com deficiência. Um tema original e inédito nos palcos, que se aprofunda na reflexão desses corpos invisibilizados socialmente.

No elenco, Bruno Ramos é surdo não oralizado, Haonê Thinar é pessoa amputada, Juliana Caldas tem nanismo e Pedro Fernandes tem paralisia cerebral com cognitivo preservado e é usuário de cadeira de rodas. Texto e direção são de Julia Spadaccini e Clara Kutner, e a direção de produção de Claudia Marques.

– O nosso corpo é um importante veículo de comunicação. É através dele que expressamos nossos desejos, nossas angústias e nossas satisfações. Estar com o corpo presente e pleno é fundamental para se sentir segura e potente. Seja qual corpo for, de que forma for, de que tamanho for. O corpo é a nossa identidade, a nossa assinatura visível. O encontro com esses atores e com essas histórias me dá a oportunidade de colocar o meu trabalho a serviço desta pauta tão necessária e urgente e isso me traz muita satisfação. Estar a frente de um projeto desta relevância é uma grande responsabilidade, um grande aprendizado, uma grande realização – declara Claudia Marques.

Em “Meu Corpo Está Aqui” a ficção entra como um elemento reflexivo, pelo fato de conectar o público com as semelhanças que existem entre todos nós e que são encobertas pelo preconceito e pela falta de conhecimento. Pessoas com deficiência vivem em um corpo e em uma essência que é viva. Não precisam desfrutar de suas histórias no silêncio, nem ser infantilizadas em tentativas de apagamento que remontam a concepções culturais e históricas a respeito do que é considerado “normal”.

– Pensei nesse projeto há mais de 3 anos. Está sendo uma realização pessoal muito grande, tendo em vista que trabalho há mais de 20 anos escrevendo teatro e, pela primeira vez, fazendo uma dramaturgia voltada para uma questão que também me inclui. Ser uma autora PCD e estar num projeto onde todos em cena também são, é uma vivência de vasta inclusão –, comenta Julia Spadaccini, que é deficiente auditiva. – Precisamos de PCDs protagonizando filmes, peças, programas de TV. Especialmente num cenário de amor e sexo. A peça vem para jogar luz, justamente, nessa grande invisibilidade que acomete o corpo com deficiência, seus desejos, amores e sexualidade – conclui Julia.

Em 2018, Clara Kutner iniciou parceria com o artista visual e consultor de acessibilidade Emanuel de Jesus para o projeto Acessibilidade em Movimento, onde se relacionaram com pessoas que trabalham nas questões em torno do tema inclusão na arte de forma muito diferente, uma via de mão dupla sempre. A partir da ideia de outrar, que é a necessidade de se colocar no lugar do outro para viver em coletividade, surgiu SOM, uma coreografia para surdos, instalação vibratória que ficou exposta no Oi Futuro, em 2019, e uma série de videodança chamada Já! Hoje o projeto é uma companhia de dança formada por bailarinos surdos que dirige e está em criação de um novo espetáculo.

– Quando Julia me convidou para essa parceria foi incrível pois tratar de sexualidade é um assunto que também tem ganhado para mim grande importância nos meus trabalhos. Como minha formação em dança é tão presente em tudo o que faço no teatro e no audiovisual as cenas com movimento e contato físico sempre me interessam muito –, declara Clara Kutner. – Penso o “Meu Corpo Está Aqui” como uma peça desejo-manifesto onde os atores se misturam, se embolam, celebram seus corpos, com algumas histórias tristes, uma dose alta de ironia e muitas perguntas que não temos como responder. Queremos levantar questões e embaralhar a lógica da eficiência –, finaliza Clara, que recentemente recebeu crítica elogiosa da Folha de S.Paulo, pela delicadeza da diretora ao tratar uma cena de sexo na novela Um Lugar ao Sol.

“Meu Corpo Está Aqui” foi realizado através de patrocínio do Programa de Fomento à Cultura Carioca – FOCA II da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio institucional do Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro. Durante a temporada, todas as sessões ocorrerão com intérprete de Libras atuando ao lado do elenco, como um quinto personagem, e acessibilidade para autistas, e 01 sessão com áudio discrição no dia 23/10.

Ficha técnica

Texto: Julia Spadaccini e Clara Kutner | Direção: Clara Kutner e Julia Spadaccini | Elenco: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes | Direção de Produção e Coordenação Geral do Projeto: Claudia Marques | Diretor Assistente: Michel Blois | Produção: Fabricio Polido | Pesquisa de dramaturgia: Marcia Brasil | Colaboração de texto: Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes | Figurino e Cenografia: Beli Araujo | Iluminação: Paulo Cesar Medeiros | Direção de Movimento: Laura Samy | Música: Luciano Camara | Visagismo: Cora Marinho | Assessoria de Imprensa: Ney Motta | Programação Visual: Felipe Braga | Fotografia: Renato Mangolin | Redes Sociais: Rafael Teixeira | Audiodescrição: Graciela Pozzobom | Intérpretes de Libras: Jadson Abraão e Thamires Alves Ferreira | Realização: Fábrica de Eventos

Classificação indicativa: 16 anos | Duração: 60 minutos

Temporadas

Estreia nacional: Teatro Glaucio Gill, Copacabana-RJ, de 07 a 30 de outubro de 2023.

Outras apresentações, em 2023: 26/10 – Festival Internacional de Angra do Reis – FITA; 16/11 – Arena Carioca Dicró; 17/11 – Arena Carioca Chacrinha; 14-18/12 – Teatro Municipal Domingos de Oliveira; Em 2024: MITsp, Festival de Teatro de Curitiba , Teatro Em Movimento (BH), Sesc Santana (SP).

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